Corrida emocionante em Fontana

Espetáculo rejeitado por alguns pilotos. A Indy precisa focar no que tem de melhor.

O Público está de pé nas arquibancadas. Gritos, dedos cruzados, alguns saltam enquanto torcem por seus pilotos favoritos. Na pista temos dois, três, quatro carros lado a lado nas curvas. Um espetáculo que emociona e eleva a moral de qualquer categoria que proporcione isso a seu público, certo? Nem tanto.

Ainda traumatizada pela perda de um de seus ídolos em 2011, a FIndy não tem unanimidade quanto ao tipo de show que foi colocado para o público na corrida de Fontana no último 27 de junho. O acidente que envolveu Ryan Briscoe na última volta, provocando a bandeira amarela na qual a corrida foi encerrada, poderia ter tido consequências tão desastrosas quanto àquela de 2011 em Las Vegas quando perdemos o inglês Dan Wheldon. Todos na comunidade da Indy sabem disso.

O problema é que os organizadores, e até algumas equipes e pilotos, foram sido surpreendidos com o fato da corrida ter sido assim tão apertada e com os carros tão próximos, o tempo todo acelerando a mais de 340 km/h. Como assim, surpreendidos? Ninguém calculou, projetou, percebeu, antecipou o risco de acidente e nem mesmo de que a prova poderia ser tão emocionante? Foi tudo surpresa?

O próprio chefe da categoria, Mark Miles, admitiu que talvez a categoria tenha permitido muita pressão nos novos pacotes aerodinâmicos, mas disse também que a baixa temperatura na Califórnia na hora da corrida ajudou a deixar os carros correrem mais próximos que o desejável. Falha admitida, depois que alguns pilotos criticaram o tipo de corrida que teve riscos demais, segundo esses. Will Power foi o mais descontente.

Esse tipo de incerteza, porém, já foi fatal nos tempos da CART quando a categoria chegou no oval do Texas e só nos treinos percebeu que os carros andavam rápido demais para as condições físicas dos pilotos e a prova teve de ser cancelada. Em Las Vegas 2011, as questões aerodinâmicas não participaram tanto da catástrofe, mas era evidente que 34 carros num oval de uma milha e meia onde se anda o tempo todo de pé embaixo traria, além de emoção, um risco enorme que se consumou com a morte do vencedor das 500 Milhas de Indianápolis daquele ano e sem a prova em sua totalidade.

Ao avaliar os próximos passos a Indy precisa ter um planejamento técnico mais preciso e ainda mais, deixar de transparecer que tudo ali é aleatório e sem um mínimo de coerência interna. Pilotos podem e devem se manifestar mas quando saem a público em detrimento da categoria, demonstram não ter tido oportunidade de falar internamente o que pensam, ou mais, que suas opiniões não são levadas em conta.

Nesse momento a Indy deve aproveitar seus trunfos quanto ao espetáculo que proporciona na paridade técnica entre os carros, na oportunidade que oferece às equipes pequenas de brigarem com as grandes em determinadas corridas, no emoção dos ovais e na liberdade de aproximação do público encarando de frente os problemas que apareceram em Fontana e os resolvendo de vez. O murmúrio dos que reclamam deve ser encerrado incorporando suas reivindicações na busca de mais competição real e menos espaço para um acaso de horror.